Ao percorrer as dunas de Santa Catarina com nossas fat bikes temos visto a mudança das estações na areia.
Mas para se enxergar a vida e a beleza nesse ambiente inóspito é preciso mudar a escala e aprimorar o olhar, pois a vida insiste, porém, também se esconde.
Junco da Praia Cruz de Malta Erva de São Simão
Conhecer para preservar.
A aridez e a paisagem que lembram um deserto escondem duas características que observamos nas dunas: a primeira é o dinamismo da paisagem que vai alterando em função dos ventos que brincam com a areia ao longo do ano.
A segunda, a capacidade de adaptação e a beleza das plantas que estão presentes nas bordas das dunas ou nas restingas que as circundam.

Embora sejam fisicamente exigentes, as fat bikes permitem percorrer essas imensas áreas semi-desérticas, possibilitando uma maior conexão com a natureza e o conhecimento desses ambientes. De certa forma, possibilita uma observação mais ativa por parte de seus poucos usuários.

Nesse sentido, as Fat bikes vão se estabelecendo como uma atividade de baixíssimo impacto ambiental (Eco-Friendly). Elas não poluem e as marcas dos pneus na areia são muito superficiais, desaparecendo rapidamente, antes mesmo das pegadas humanas.

Elas já têm sido usadas ativamente em vários parques de dunas dos EUA, de países da África (Marrocos, África do Sul e Namíbia) e do Oriente Médio (Dubai e Abu Dhabi), entre outros.
Aqui no Brasil o ICMBio tem incentivado o uso de bicicletas em diversos parques nacionais (8 trilhas de bike para quem ama pedalar na natureza) , em especial destaque a regulamentação do uso de fat bikes no grande parque dos Lençóis Maranhenses.
Flores e plantas nas Dunas de Santa Catarina
As dunas apresentam uma vegetação bastante diferenciada e diversificada que necessita estar adaptada às condições severas a que está exposta.
E com a chegada da primavera as dunas também se enchem de cores, com flores de diferentes formas e tamanho.
Cruz de Malta Ipomoea imperati Tarumã Camarinha Epidendrum fulgens Petúnia Margarida das dunas
Algumas variedades como as Quaresmeiras, estão presentes nos mais diversos campos de dunas do estado, não passando despercebidas com sua beleza exuberante formando verdadeiros jardins coloridos, como nas Dunas da Praia da Cigana.

Quaresmeira

A “Sempre Viva de Mil Flores” que surpreendentemente se encontram em duas paisagens tão díspares do estado: nos Campos de Altitude da Serra e aparece bem distribuída nas Dunas da Joaquina. Esta realmente sabe onde o estado apresenta suas maiores belezas.
Sempre Viva de Mil Flores

Toda a delicadeza das plantas das dunas é revelada muitas vezes em formas complexas, que formam um espetáculo à parte, como a delicadeza do Cipó de Leite e outras tantas que não conseguimos identificar os nomes.


Outras são tão bonitas quanto são pequeninas e ficam escondidas no meio da restinga que quase necessitamos de lupas para poder observá-las, como acontece com Cipó de leite. E a Meladinha, que além de minúscula é coberta de pelos que fazem os grãos de areia ficarem grudados.
Cipó de leite Meladinha Meladinha
E o que dizer das margaridas das dunas que brotam diretamente do chão árido? E da Oenotera molissima que nasce a noite e muda de cor no dia seguinte? E as flores de cactos que encantam em meio a espinhos?
Margaridinha


Quanto à Camarinha, ela exala um perfume semelhante ao mel e a Erva de São Simão tem sido fonte de estudos para tratamentos medicinais. Tem ainda a Epidendrum fulgens, uma orquídea terrícola que floresce ao longo do ano e é muito procurada pelos predadores humanos.
Já a Erva de Santa Maria possui frutos vermelhos e odor bem característico.
Erva de Santa Maria
Mas às vezes a beleza e às cores são atrativos à parte para pequenos insetos. Elas podem ser fatais por serem armadilhas das pequenas plantas insetívoras, como as Papa-moscas.
Papa-moscas
E toda essa abundância de vida em terreno arenoso se renova também após uma temporada de chuvas, quando se formam pequenas lagoas onde a vida brota tão logo lhe é dada a condição. Nessas, muitas vezes, florescem as minúsculas Soldanelas d’água com seus poucos centímetros de altura numa rede de folhas flutuantes interconectadas.


Em algumas lagoas mais perenes como às das Dunas da Joaquina as Lentilhas D’água se proliferam tanto a ponto de formarem uma verdadeira cobertura aquática. Além de transformar o local em inusitadas lagoas totalmente verdes no meio da restinga ela também é uma grande auxiliar na recuperação de águas poluídas.
Lentilhas D’água Cobertura verde

E a cada visita a um campo de dunas com nossas fat bikes vamos descobrindo novas variedades, que antes não havíamos observado. É um mundo em eterna transformação, seja pelo vento ou pela passagem das estações.
Baleeira Baleeira Baleeira
E nem só na primavera nascem flores nas dunas e, às vezes, em pleno mês de julho encontra-se um recanto das Dunas da Ribanceira coberto de Cipós de São João.
Cipós de São João Cip´o de São João Cipó de São João A exuberante Cipó de São João
Árvores nas Dunas
Nas beiradas dos campos de dunas geralmente existe uma rica mata nativa que serve de contenção ao avanço da areia.
Mas em tempos não muito distantes foi estimulado a plantação de árvores exóticas para tentar frear o avanço das dunas em locais de restinga baixas. Essas árvores hoje formam muitas vezes um local de abrigo ao sol inclemente e local de moradia para muitos pássaros.

Dunas do Rincão Dunas Itapirubá Sul
Mas, ao mesmo tempo, o avanço constante da areia foi lentamente encobrindo árvores inteiras, que acabam sufocando na tentativa de impedir o avanço da areia.

Dunas do Ouvidor Dunas do Torneiro
Nem tudo são flores
As Dunas são definidas como locais de preservação permanente. Mas, infelizmente, em nossas andanças pelos campos de dunas avistamos mais do que gostaríamos e temos visto a degradação desse ambiente.
Não bastando terem que resistir à retirada de toneladas de areia perpetrada por anos, como foi o caso até recentemente das Dunas da Ribanceira,
ainda enfrentam diversos tipos de agressões: ocupação ilegal, ocupação legalmente duvidosa, construções irregulares, loteamentos, estradas e cercas delimitando trechos de dunas!

Mas no quesito degradação a exploração imobiliária ilegal é disparado o grande inimigo.
Mas tem também o descaso da sociedade de algumas comunidades que usam esses locais para descarte.
Triste de ver a quantidade de lixo nas dunas, onde são muitas vezes enterrados mas logo descobertos pelo vento e espalhados na areia das dunas do Balneário Rincão e do Torneiro. Até animais e ossadas encontramos expostas.




Mas também vimos trechos de restinga desmatada para ocupação futura e para criação de campos de pastagem. Tem também a retirada de flores de forma predatória para vender como plantas ornamentais…
Pobres das dunas e restingas que ainda são vistas como coisa ruim ou indesejada para algumas pessoas.
É preciso conhecer para preservar!
Flores do litoral
Num certo sentido os Campos de Dunas são as flores do nosso litoral, pois tem muitas características em comum com as plantas do seu interior. São desconhecidas, passam despercebidas, e poucos se dão conta de sua beleza e da sua insistência em sobreviver num ambiente tão inóspito.
Sim elas estão ali, as flores e as dunas.
Atenção: Esse não é um trabalho científico. É um registro do que vimos e observamos em nossos passeios. A identificação foi feita para fins de curiosidade – não somos especialistas em Biologia, Geologia ou Ecologia. Somos ciclistas e observadores da natureza.
Referências:
A identificação das plantas aqui apresentadas foram feitas principalmente pelos seguintes livros:
O pioneiro trabalho “Guia Ilustrado da vegetação costeira no extremo sul do Brasil”, de César Vieira Cordazzo e Ulrich Seeliger, publicado em Rio Grande, RS, em 1995.
E pelo fantástico trabalho “Guia Ilustrado da Flora da Restinga de Santa Catarina” de Ricardo Binfaré e Daniel Falkenberg, de 2016, disponível on line para download: “Guia Ilustrado da Flora da Restinga de Santa Catarina”,