O Parque Nacional da Lagoa do Peixe, PNLP, fica situado na estreita faixa de terra que fica entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico, nos municípios de Mostardas e Tavares, no RS.

A região é um santuário de aves migratórias, atraindo pássaros de centenas de espécies e passarinheiros dos mais diversos lugares. Entre as várias espécies registradas a grande estrela do local é o Flamingo Chileno.

Passarinheiros de todo país visitam o Parque Nacional da Lagoa do Peixe no período de outubro a abril, que é considerado a alta temporada de observação de pássaros da região e quando é realizado um grande festival.
Decidimos ir até e conferir com nossas fat bikes.

Um grande desafio
O terreno da reserva do Parque Nacional da Lagoa do Peixe é basicamente de banhados e dunas, alcançando a faixa de litoral.


Montamos o nosso trajeto partindo da cidade de Mostardas, seguindo pela Trilha da Dunas (ao norte) até o Balneário Mostardense e dali cruzar o longo campo de Dunas para o Sul, retornando pela Trilha do Talhamar (ao sul).
Com isso seria possível percorrer de bicicleta, pelas dunas, um grande trecho do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, e que dificilmente conseguiríamos em jornadas separadas para cada trilha.

A Trilha das Dunas do Parque Nacional da Lagoa do Peixe
Saímos pedalando do centro da cidade de Mostardas e logo alcançamos a estrada de acesso do parque. A trilha das dunas é continuação dessa estrada, que corta o parque em direção o Balneário Mostardense.

A parte inicial da estrada-trilha é um estradão de chão, com charco e banhado de ambos os lados e isolados por cercas elétricas – sem qualquer sinalização avisando disso.

No primeiro grande banhado começamos a avistar a grande variedade de pássaros e nos empolgamos fotografando.

Sem ainda saber os nomes, registrávamos cada um que considerávamos diferente, tentando pegar detalhes das aves e da paisagem onde estavam inseridas. Ali registramos Tachã, Martin Pescador, Maguari, Polícia Inglesa do Sul, entre outros.

Um pouco mais a frente a trilha foi mudando de estradão para areia, até se tornar numa estrada no meio das dunas. As vezes seca, mas muitas vezes de areia bastante molhada.

Nesse trecho avistamos um Carcará vigiando a estrada do alto de uma árvore.

E assim prosseguimos bem até chegarmos ao Balneário Mostardense, que foi construído numa região de restinga. No único bar do local, complementamos a água e partimos para nossa jornada pelas Dunas.

Cruzando o Campo de Dunas de fat bike
Após circular um pequeno trecho pela praia adentramos em direção as dunas. Com a restinga toda irregular e com trechos de areia fofa, a pedalada passou a ser de um sobe e desce constante e cheio de solavancos.


Desviamos de tantos banhados que parecia que nunca chegaríamos nas dunas móveis propriamente dita.

Mas alcançamos a parte de areia fofa, que não durou muito e veio outro de restinga e outro de banhado…
Tentamos nos manter pedalando somente em areia de dunas, mas os voltas eram tantas que decidimos seguir uma linha reta para o sul até o local onde fica a Lagoa do Ruivo onde acreditávamos que poderíamos observar um maior número de aves .
Em vários momentos paramos para admirar a beleza do lugar. Muitas vezes sentados observamos a beleza do local, aquela imensidão de areia e a restinga.
As vezes pedalávamos separados, bem longe um do outro, pois cada um escolhia seu próprio caminho.
Mas mais a frente novamente nos encontrávamos, com aquela sensação de satisfação e realização provocadas pelo ambiente.
E naquelas terras isoladas ao longe avistamos uma égua e seu filhote, vagando livremente entre as dunas.
E a sequência de duna, restinga e banhado foi se repetindo lentamente, por mais de 30 quilômetros.

A lagoa do Ruivo
Ao chegar às bordas da lagoa do Ruivo reapareceu novamente a cerca elétrica isolando o banhado do parque. Dali avistamos de longe algumas Garças e outros pássaros e muitos bois pastando.

Tínhamos fantasiado ver ali os grandes bandos de pássaros, mas ali eles não estavam na época que visitamos o parque.

Mas nesse ambiente tínhamos que estar de olhos bem abertos, pois toda uma variedade de aves estava ali, perto de nós.

Tentamos continuar pedalando junto a cerca, mas a área de banhado e restinga faziam com que não avançássemos muito. E decidimos mudar de rumo, seguindo diretamente para o leste em direção a praia, nos orientando pelo Farol de Mostardas.

A Praia do Farol
O percurso da lagoa do Ruivo até o Farol foi relativamente rápido, seguindo quase que exclusivamente sobre areia fofa de dunas.
Em muitos trechos tivemos que parar e começar novamente, pois afundávamos no que chamávamos de caixas de areia.


Chegamos na praia, na região é conhecida como “Praia do Farol”, onde existe um grande vilarejo de algumas dezenas (ou centenas?) de casas. Infelizmente o lixo e a sujeira aumentavam a medida que nos aproximávamos da vila.

Circundamos toda a área do Farol na tentativa de avistar o pessoal responsável, mas não encontramos ninguém. O local parecia meio largado e ficamos até em dúvida se haviam marinheiros residentes no local.

Foi tão triste de ver tanto descaso com a natureza no vilarejo que decidimos seguir nosso percurso diretamente para o sul pela orla, até a trilha do Talhamar.

E pela praia cruzamos por bandos de pássaros tão conhecidos de nossos outros pedais de praia.

Passamos por gaivotas, trinta-réis, maçaricos e outros aves que iam ali pescar, especial destaque para a grande Garça Moura.


A trilha do Talhamar no Parque Nacional da Lagoa do Peixe
O pequeno vilarejo do Talhamar é hoje uma vila fantasma pois suas casas foram abandonadas após a criação do parque, e foi nesse local que pegamos a trilha para fechar o circuito do pedal.

Inicialmente foi uma trilha sobre areia molhada de dunas até alcançar uma estrada que cruza por entre as lagoas, que dependendo da época do ano e das condições climáticas pode estar bastante alagada impedindo a passagem de veículos.
Nessa região avistamos novamente muitos pássaros, agora em bandos maiores.
Além dos pássaros, nas margens da lagoa haviam também muitos cavalos e gado pastando.

Teve um grupo de pássaros que de longe nos chamou muito a atenção, pois pensávamos que eram flamingos pela cor rosada das penas. Mas depois de muito observar conseguimos distinguir que eram Colhereiros.

E fomos seguindo pela Trilha observando as aves e a natureza da região, até alcançarmos o asfalto e seguirmos diretamente para nosso ponto de origem.

Finalizamos o pedal bastante cansados, mas extremamente realizados por termos conseguido cumprir bem os 72 km de pedal entre trilhas, estradas, dunas, praia e muitas aves.
A Trilha das Figueiras
O acesso a trilha das Figueiras se faz a partir da cidade de Tavares, por um estradão em meio a propriedades rurais, até alcançar o portal de entrada do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, ladeado pelas figueiras que dão nomes à trilha.


Posteriormente segue por entre o banhado até chegar à beira da Lagoa, com as dunas ao fundo.


Ao longo do caminho aproveitamos para fotografar aves e observá-las, algumas já identificando pelos seu nomes.

E pudemos finalmente avistar os tão esperados flamingos. Primeiro um animal solitário que pescava junto aos juncos, depois um pequeno bando que descansavam num outro trecho no meio da lagoa.

Nessa região também avistamos muitas outras espécies que não havíamos observado nas outras áreas do parque. E ficamos muito tempo ali, encantados com tanta beleza.
A Lagoa dos patos
Do centro de Tavares partimos também para um pedal por estradão até às margens da Lagoa dos Patos, a maior lagoa da América do Sul, com 10 144 km².

Ela é tão grande que de onde estávamos não víamos a outra borda. No seu interior existe alguns faróis, sendo o mais próximo da região da Lagoa dos Peixes o Farol de Capão da Marca de Dentro, que avistamos somente de longe.


De água salobra, a lagoa fazia parte de nosso imaginário infantil, por aparecer no mapa do Brasil. Era a conhecer um local que constava nos nossos livros de infância.


O local por onde andamos é marcado pela existência de diversas pequenas propriedades rurais, mas com quase total ausência de infraestrutura para turismo.

Epílogo
Pedalar em um local que é santuário de aves migratórias nos permitiu desenvolver um olhar mais atento ao ambiente que nos circunda.
Fez olhar para os pássaros de forma diferente, querendo identificar e diferenciar uma espécie da outra, saber como vivem, quais são suas características, sejam as aves das áreas de preservação ou urbanas.

Depois de pedalar no Parque Nacional da Lagoa do Peixe passamos a olhar com mais carinho a pequena Noivinha, a reconhecer a beleza do Polícia Inglesa do Sul, a admirar o porte das grandes Garças ou os intimidadores gaviões.
E já sabemos que voltaremos na próxima temporada de observação de pássaros para ver os velhos conhecidos e, quem sabe, conhecer outros mais.
Excelente! A junção de 3 coisas que eu gosto, ciclismo, fotografia e aves. Só estive uma vez (2014) no PN Lagoa do Peixe no Festival Brasileiro das Aves Migratórias que acontece todo ano em novembro. Este ano (2018) pretendo voltar.
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Que bom que gostou José Serrano. O lugar é realmente lindo. Pretendemos voltar também. Até!
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